Imagine os guitarristas do passado com todos os instrumentos que temos hoje. Será que eles estariam usando as marcas e modelos de instrumentos que são associados à suas imagens hoje? Já imaginou Eric Clapton tocando em uma Ibanez, ou Jimmy Page tocando com uma Jackson, Jimmi Hendrix com uma ESP? Essa pergunta me levou a pensar se realmente devemos nos prender tanto às marcas tradicionais e aos mitos em torno delas, ou se devemos experimentar novas coisas e ver no que dá. Talvez pela insatisfação de guitarristas com os modelos tradicionais, muitas marcas que hoje são consolidadas no mercado, começaram a ganhar espaço nos últimos quinze, vinte, trinta anos, mas principalmente a partir da década de 80. Essa reflexão me inspirou a trazer hoje um resumo sobre os aspectos técnicos das guitarras PRS, ou Paul Reed Smith Guitars, e diferenças em relação a outras guitarras. No final deste post, vou deixar alguns links para quem quiser conhecer um pouco da história das guitarras PRS através de entrevistas com Paul Reed Smith, o fundador dessa empresa e principal responsável pelo design das guitarras que levam o seu nome.
Agora vamos aos aspectos técnicos desse modelo. Hoje, como qualquer outra marca, a PRS tem diversas linhas de guitarra e também diferenças no hardware, além de também produzir na China, se não me engano, mas é certo que é em algum país asiático. Sobre as Chinesas (ou asiáticas) eu não garanto nada, apenas por falta de informação, mas acredito que ainda sim são de boa qualidade. Os captadores são, geralmente, produzidos pela própria PRS; a madeira predominante no corpo e braço é o mogno; tampo de maple; escala rosewood. Também existem modelos com outras madeiras.
PRS 58/59 Limited Run, com corpo e braço de mogno e escala em rosewood.
PRS Artist Package, com escala em maple.
Ainda em relação às madeiras, vale lembrar que em séries como a private stock, elas podem ser das mais variadas como Afirican Blackwood, Brazilian Rosewood (Jacarandá da Bahia), Cocolo, East indian rosewood, Ebony (Ébano), Exotic Ebony, Figured maple, Kingwood, Macassar ebony, Madagascar rosewood, Tulip, Ziricote e outras. Dá pra ver que são várias usadas, algumas ai eu nunca ouvi falar na vida. É clara e notória a semelhança das madeiras e a forma como são dispostas no instrumento, e até mesmo da aparência da guitarra, com os modelos Les paul da Gibson, ou seja, braço e corpo de mogno com tampo de maple.
PRS custon 24 retro
PRS Santana Signature Model
Carlos Santana com a sua PRS assinatura
Para os modelos mais tradicionais, se é que posso dizer isso, que se assemelham mais com os do final dos anos setenta e início dos oitenta, como a PRS custon 24 retro ou mesmo a do Carlos Santana, a ponte é semelhante a de uma stratocaster da Fender, com alavanca e bloco de aço.
PRS custon 24 retro
Até agora não falei de uma característica muito notável, principalmente se comparamos uma PRS a uma Les Paul, que é o fato do conceito original, e quase todos os modelos, serem single cutway. Essa característica está presente nas stratos, e realmente deixa o acesso às últimas casas mais confortável, o polegar fica mais "livre". Portanto imagino que esse ó o motivo para a guitarra ser double cutway, pode até ser por uma questão apenas estética, mas a sua funcionalidade é presente da mesma forma. As lendas são muitas e as fontes nem sempre confiáveis, o que sei é que levou um certo tempo até Paul Reed Smith chegar num modelo que estivesse, eu sua visão, pronto para a comercialização. Encontrei duas fotos do que seriam os primeiros protótipos construídos por Paul.
Abaixo o criador da marca, em 1975, com um modelo que lembra muito uma Les paul special ou uma Les Paul Junior. Não estou acusando ninguém de ladrão de ideias ok? Tudo deve partir de algum ponto para depois se aperfeiçoar, é preciso ter uma referência.
Na foto abaixo é possível ver Paul R. Smith com um modelo já aperfeiçoado e pronto para o mercado. Já é possível reconhecer a guitarra como a PRS que vem a nossa mente quando pensamos na marca, já com os inlays de pássaros para marcar as casas. A foto, pelo que pesquisei, foi tirada por volta de 1984. Se alguém souber estimar melhor essa data, avise para que eu faça a correção.
Sobre a inclinação do headstock na PRS, na minha visão, ela foi concebida para evitar o problema de quebra de headstock do modelo Les Paul e proporcionar menor atrito no nut. O ângulo no headstock é ilustrado na imagem abaixo, sendo que na primeira guitarra não há inclinação (ângulo igual a zero) e na segunda o ângulo é beta β. Lembro que mesmo em um headstock sem inclinação as cordas formam um ângulo depois que passam pelo nut, pois os postes das tarraxas estão em um nível abaixo do nut. Isso é inevitável e essencial para que um instrumento como a guitarra afine corretamente.
Vou apresentar a seguinte imagem para mostrar que quanto maior o ângulo de inclinação, maior a força vertical, que incide no nut. Se você não gosta de física, apenas pule essa parte e acredite no que eu já disse hehe.
Para quem lembra da física, a força que a corda exerce é representada pela seta vermelha e as setas amarelas representam a decomposição da força na vertical e na horizontal. Lembrando que a seta vermelha possui as mesmas dimensões nas duas imagens, ou seja, representam a mesma força e portanto elas podem ser comparadas. Lembro também que vamos trabalhar com valores adimensionais. Notamos então que no primeiro caso a força vertical é de 66, 44 e no segundo é de 111, 86 e quanto maior o ângulo, maior a força vertical. No caso da força horizontal acontece o contrário, mas para nós o que interessa é a horizontal. Uma maior força vertical pode ser traduzida como mais força no nut, e portanto mais atrito. Isso prejudica a estabilidade da afinação, pois propicia a corda a travar no nut, e ainda resulta numa força maior na parte mais sensível do braço do instrumento. A conclusão que podemos tirar disso é que o ângulo do headstock de uma guitarra PRS é mais vantajoso do que o de uma guitarra modelo Les Paul. Isso não significa de forma alguma que uma Gibson Les paul é uma guitarra inferior, só um maluco diria isso, são apenas modelos com características diferentes. Outra característica é que numa PRS a corda passa quase que reta até a tarraxa, sem uma curva como em outros modelos, isso também ajuda a diminuir o atrito com o nut e assim manter a afinação. Só tenha em mente que tudo isso sobre afinação deixa de valer se a guitarra tiver ponte flutuante, pois nesse caso o nut tem uma trava. Veja a imagem seguinte para entender melhor e observe a inclinação das cordas quando passam pelo nut.
Sobre o comprimento de escala das PRS, o padrão é 25", como na Custom 22. Contudo existem outros modelos da marca que possuem comprimentos de escala diferentes, como é o caso das Assinatura do Santana (na imagem a Santana Retro) com 24,5", e a The McCarty 594 com 25,594". O nome dessa última inclusive, é por causa dos números depois da vírgula no seu comprimento de escala, 24.594". As imagens das guitarras estão na ordem em que foram citadas.
Existe um post aqui no blog sobre esse assunto, inclusive com um material para download. O link está aqui: Gabaritos de escala (guitarra e contrabaixo, padrão Fender e Gibson)
Hoje a marca tem muitos modelos e apesar da maioria ser de braço colado, existem modelos com o braço parafusado. A clara intenção é de remeter o som de uma stratocaster, que possui o braço parafusado no corpo.
PRS CE 24. Braço de maple, parafusado (Bolt on neck)
Algumas também possuem a ponte no modelos das les paul, tipo tune o matic. Em algumas até o formato do corpo é single cutway, para remeter ainda mais ao modelo em que foi inspirada.
MC Carty 594 e Mc Carty SC 594
O fato de Paul Reed Smith ser guitarrista ajudou muito na criação do instrumento, pois ele entende na prática as necessidades do consumidor final. Existem opções diversas desse tipo de instrumento, que mesclou o que já havia no mercado, principalmente elementos da Les Paul e da Stratocaster, e acrescentou características novas e que podem ser vistas como melhorias, embora esse conceito pode ser relativo. O que não é relativo é o capricho da marca em cada detalhe, são guitarras muito bonitas e que já garantiram o seu lugar no mercado e no gosto dos músicos profissionais e amadores.
Até a próxima \m/(o,o)
Entrevista de 1986: https://www.youtube.com/watch?v=ei2lpCavAeE
Entrevista Recente: https://www.youtube.com/watch?v=LRCIicyETNk
Um pouco da história da marca: http://www.strikemusic.com.br/prs/historia.asp
Otimo post..parabens
ResponderExcluirMuito Obrigado!
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