Antes de tudo vale lembrar que não existe mágica numa peça só porque é feita para o uso em instrumentos. O mecanismo de uma tarraxa, por exemplo, é um conjunto de eixos e engrenagens, assim podemos partir dessa ótica para analisá-lo. O mesmo vale para outras peças do instrumento. O nosso tipo de lubrificação não é constante como em máquinas industriais, que possuem altos níveis de desgaste e trabalham com constante variação de temperatura, mas deve ser feita com certa periodicidade. Portanto tudo que vou dizer aqui é pensando em nossa realidade. Vamos conhecer os tipos de lubrificantes que são usados e alguns, que na minha opinião, não devem ser usados e por qual motivo.
Tipos de lubrificantes utilizados em instrumentos
Lubrificantes sólidos
Grafite:
Onde utilizar: Utilizaremos o grafite no nut (pestana) e nos carrinhos (saddles) dos instrumentos. Não é necessário comprar o grafite, pode-se raspar a ponta do lápis e você terá grafite enquanto o lápis durar, e é muito tempo. Pode parecer óbvio, mas não se deve em hipótese alguma usar lubrificantes líquidos ou pastosos nesses pontos do instrumento, nunca usar óleos ou graxas.
Características: O grafite não muda suas propriedades com a temperatura (essa característica não faz muita diferença no nosso caso); Possui um bom índice de adesividade, o que significa que apesar de ser sólido ele irá grudar e ficar no lugar que você deseja com certa facilidade; Não possui impurezas abrasivas, ou seja, apesar de ser sólido não possui partículas que iram riscar ou "lixar" as peças em contato com ele.
Finalidade: Neste caso a maior finalidade é a estabilidade da afinação. Usar grafite no nut do instrumento ajuda as cordas a voltarem para o lugar, por exemplo, depois de um vibrato ou um bend. Depois de usar o grafite pode dar adeus àquele "tink" no nut na hora de afinar, principalmente se ele for de plástico. Esse barulho acontece porque a corda trava num ponto do nut e subitamente se desprende. Nos carrinhos a função do grafite é a mesma.
Passar o grafite bem na cavidade (slot), indicado na figura acima, onde se apoia a corda. Esse procedimento ainda ajuda a evitar o afundamento do slot onde se localizam as cordas. Esse afundamento é mais comum em saddles de qualidade inferior, mas acontece em outros, o que varia é o tempo que esse processo leva. Isso também pode acontecer devido ao suor que ajuda a corroer o local que já está sob pressão das cordas. Se a cavidade ficar muito grande a única solução é a troca dos carrinhos. Em resumo é importante manter as peças limpas e bem lubrificadas.
Passei a utilizar grafite para lubrificar a guitarra depois de ler uma matéria na guitar player de dezembro de 2001, escrita pelo Henry Ho, que falava da regulagem das guitarras do Yngwie Malmsteen. Assim que eu achar a revista, coloco a foto da matéria aqui.
Cera de abelha e parafina:
Como lubrificante, o seu uso fica restrito a utilizá-los em parafusos para facilitar o trabalho de parafusar braços de guitarras e contrabaixos. Mais uma vez, sem exageros na quantidade utilizada, deixo como exemplo a figura abaixo.
Apenas como curiosidade, deixo a foto de um banho de parafina (parafina e cera de abelha, a proporção e tudo mais fica pra outro post) em um captador single que rebobinei e troquei os ímãs.
Sobre os Metais:
Não chega a ser um lubrificante propriamente dito, apenas é um metal (ou liga metálica) que possui o coeficiente de atrito muito baixo e por isso é usado em alguns casos. Muitas engrenagens de tarraxas feitas de latão exatamente por esse motivo, além do que acontecerá o desgaste em apenas uma peça, que poderá ser substituída, e não em duas. Nuts de metais, como o latão, são muito comuns também.
Lubrificantes líquidos
Óleo de máquina:
Onde utilizar: Deve ser usado nas engrenagens das tarraxas, pouca quantidade é suficiente. A intenção é formar uma película entre as partes móveis. Aplica-se com um palito de dente, por exemplo, para dosar melhor a quantidade. Não exagerar, é apenas uma película fina.
Características: Para essa finalidade, eu utilizo o óleo da marca singer, pois é de uso residencial; trabalha bem a temperaturas do nosso caso, que são relativamente baixas; A viscosidade é adequada para a maioria das coisas que temos em casa, isso se aplica às tarraxas de violão, contrabaixo, guitarra, cavaquinho, etc; Também se adere bem às peças e as mantém lubrificadas por um bom tempo.
Finalidade: O óleo cria uma película fina entre as peças e isso diminui o atrito e por sua vez o desgaste das peças, além de prevenir a corrosão das mesmas.
Desengripantes:
Vou destacar aqui o WD40. Não é minha intenção prejudicar a imagem do produto, apenas vou falar dessa marca porque é o que vejo causando mais polêmica quando o assunto é a sua aplicação em instrumentos, mas o que vou dizer vale para a maioria, se não todos, dos produtos como esse.
Onde utilizar: Esse tipo de lubrificante deve ser usado da mesma forma e nos mesmos locais em que o óleo de máquina, porém deve-se despejar o produto em uma tampinha, por exemplo, para ter o controle da qualidade a ser aplicada.
Características: Possui praticamente as mesmas características do óleo de máquina para o nosso caso.
Finalidade: A mesma do óleo de máquina para o nosso caso.
A polêmica
Esse tipo de lubrificante pode ser usado como descrito acima e com as mesmas finalidades; Para limpar peças já enferrujadas que não querem se mover e também retirar resíduos de suor ou de outros lubrificantes. As discussões geradas acerca desse lubrificante é a sua utilização em outras partes do instrumento. Já vi gente no youtube usando em escalas e no corpo de instrumentos. Eu não recomendo e digo isso por que não vejo como a principal função desse lubrificante. No site do produto http://wd40.com.br podem ser encontradas várias aplicações, mas no final existe este aviso mostrado na imagem :
Apesar do fabricante dizer que o produto não resseca borrachas, não ataca pintura e não agride madeira, não significa que foi desenvolvido para a limpeza de áreas que possuem pintura e muito menos para a hidratação de escala de instrumentos. Quanto ao aviso legal, o fabricante se refere à lista de usos que você pode encontrar no site do produto, cujo link já deixei aqui. Na minha opinião é um excelente produto, mas para uso em instrumentos indico apenas para as aplicações que descrevi aqui. Isso, para mim, vale para desengripantes no geral.
Sobre óleos vegetais
Não indico para o uso em partes de metal do instrumento e já vi canais grandes no youtube indicarem. Funciona como lubrificante, mas esses óleos tem uma maior tendência à oxidação e com o tempo podem deixar resíduos nas peças. Essa é a minha visão e não bato o martelo dizendo que é errado e pronto, apenas não utilizo pelos motivos que descrevi. Para a hidratação da escala existem óleos específicos no mercado para este fim, mas podem ser utilizados outros óleos como o óleo de peroba (apesar de ser uma mistura de óleo vegetal e mineral) e óleos vegetais semelhantes. O próprio óleo de peroba tem uma versão lavanda, recomendo o tradicional. Na dúvida, leia o rótulo do produto e se o fabricante indicar está tudo ok.
Lubrificantes semi-sólidos (graxas)
Existem graxas de vários tipos e direcionadas a várias aplicações diferentes. Indica-se o uso de graxas para engrenagens abertas, que trabalham sem uma caixa protetora (caixa essa que muitas vezes é preenchida com um certo nível de óleo). Essa indicação se dá pelo fato de engrenagens abertas estarem muitas vezes em rotação e óleos seriam expelidos muito facilmente das peças, é por isso que a gente usa graxa e não óleo na corrente e coroas da bicicleta), também temos que levar em conta fatores como impurezas presentes no local para essa avaliação. As vezes um óleo muito viscoso pode ser usado, mas como estamos falando de engrenagens de tarraxas que são muito pequenas, ficam a maior parte do tempo paradas e não estão expostas a ambientes muito sujos, podemos utilizar os lubrificantes líquidos descritos aqui. Nada impede o uso da graxa em engrenagens de tarraxas, mas sem exageros. Não recomendo muito, pois a graxa velha é difícil de remover numa próxima lubrificação e pode grudar nas mãos e em outras partes do instrumento.
Aqui finalizamos os tipos de lubrificantes utilizados em instrumentos. Sugestões são bem vindas.
Um pouco sobre Tarraxas Blindadas
Engrenagens blindadas são engrenagens trabalham dentro de uma "caixa fechada", são engrenagens fechadas. São mais comuns em guitarras, já as abertas são mais comuns em violões, contrabaixos, cavaquinhos, violas, etc.
Uma fina camadas de óleo é o tipo de lubrificação dessas tarraxas. Essas afirmações não valem para engrenagens de baixa qualidade que muitos dizem serem blindadas, são apenas engrenagens fechadas, o que as protege de impurezas do ar e do ambiente. Na falta de uma tarraxa de qualidade, prefiro engrenagens abertas do que essas fechadas de baixa qualidade, nelas posso ter acesso às engrenagens e limpá-las com querosene, ou um desengripante como wd40, aplicar um novo lubrificante e conferir se todos os parafusos estão firmes. Temos que ter em mente que tarraxas blindadas de boa qualidade não requerem esses mesmos cuidados, até mesmo porque o acesso a parte interna não é possível. Na minha opinião, nessas tarraxas de baixo custo a tampa poderia ser removível, o que daria acesso às tarraxas. Até é possível retirar essa tampa, eu mesmo já fiz, mas é muito trabalhoso, nada prático. Enfim, tarraxas baratas são tarraxas baratas, não dá pra exigir muito delas.
Não lubrificar, ou uma lubrificação deficiente, pode reduzir a vida das peças do instrumento. Isso tudo depende de quanto você usa e por sua vez os efeitos de uma lubrificação adequada são muito mais perceptíveis quando o instrumento é muito usado. Se a pessoa usa pouco o seu instrumento e por isso afina a guitarra poucas vezes, pouco se nota a diferença, mas se você gosta de cuidar das suas coisas vai concordar que com esses cuidados só temos a ganhar. Esses tipos de cuidados com o instrumento podem fazer que passem anos até que seja realmente necessária a troca de algum elemento.
Espero ajudar algumas pessoas com esse material. Estou aberto para receber dúvidas e sugestões. Abraço!
(o,o) \m/
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