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quinta-feira, 9 de fevereiro de 2017

Os capacitores Bumble Bee Fake

         A minha opinião sobre esses capacitores é que o som característico proporcionado por eles pode ser explicado pela  perda de eficiência desses componentes.  Perder a eficiência significa basicamente que algo não funciona mais da forma que foi projetado para funcionar e fatores como a deterioração dos dielétricos do capacitor com o tempo, ESR, DC leakage, são alguns fatores que justificam o porquê dessa perda de eficiência. O timbre vintage que muitos apreciam tem, muitas vezes, relação com uma menor eficiência dos produtos do passado comparados com os modernos. 

        Independente do que eu leio ou vejo por ai, gosto de fazer meus próprios experimentos para tirar as minhas conclusões. Certa vez, quando fiz uma compra de componentes eletrônicos, resolvi testar vários tipos de capacitores na minha guitarra.  Comprei capacitores do tipo cerâmico, poliéster, polipropileno, óleo e poliéster metal film, todos de 33nf porque foi o único valor comum a todos que encontrei. Tive o trabalho de instalar e testar todos, e para todos os casos o timbre era praticamente o mesmo. Digo praticamente pois como já expliquei no post Como o circuito de tonalidade influencia no som , nenhum componente é idêntico, mas na real não notei diferenças gritantes. Quanto eu estiver inspirado, refaço a experiência e deixo os áudios aqui. Bom, mas eu ainda não havia testado o capacitor a óleo, e embora não tenha testado todos no mesmo dia, depois de tanto tira corda, abre escudo, tira componente, solda componente...eu já estava cansado. Mas será que o esforço valeria a pena e a mágica do capacitor a óleo ia acontecer?. Montei a guitarra e  liguei direto no amplificador, e meus amigos...que som, que som, queeee sooom...quase igual aos outros 😒. Devido aos meus testes, e com tanto que o valor seja o mesmo, não há motivo para um capacitor proporcionar um som tão diferente do outro assim, claro que existem sutis diferenças, mas nenhuma delas justifica cobrar valores absurdos por um capacitor, como você pode comprovar na loja da Gibson, link para a loja http://store.gibson.com/historic-spec-bumble-bee-capacitors-two-pack/ , capacitores vendidos por 129.99 dólares o par? tô fora. Nunca testei o famoso bumble bee, e por esse motivo não posso falar nada a respeito dele, mas até agora não há nada que me faça crer que ele é tão especial assim. 














 Na descrição do produto eles afirmam que ele foi especialmente desenvolvido para replicar os famosos capacitores produzidos na época e que eles funcionam como os originais. Não me entenda mal, cada um é livre para gastar o seu dinheiro da forma que bem entender, com o que ou quem quiser, mas e quando o produto não é tudo aquilo se esperava dele ou até mesmo há uma propaganda enganosa?. É exatamente isso que você pode conferir no vídeo que será apresentado logo mais, onde algumas pessoas descobrem que um suposto bumble bee, retirado de uma guitarra Gibson Les Paul, é nada mais nada menos do que um capacitor moderno que deve custar alguns centavos. Em cerca de 1:45 do vídeo a seguir, você pode verificar o teste destrutivo desse capacitor  https://www.youtube.com/watch?v=XeVk_OLqLOg. O vídeo é de 3 anos atrás, mas como está em italiano, possui apenas um comentário e relativamente poucas visualizações, penso que não foi muito difundido.

Aqui o print do comentário e logo após a tradução










  "Por que você abriu um antigo capacitor bumble bee? Eu não falo a sua língua e fiquei imaginando a razão."
" É um capacitor recente tirado de uma Les Paul 58 VOS. Nós o quebramos em frente à câmera para mostrar que, apesar da aparência, não é um capacitor de papel e óleo, mas um bom e moderno capacitor de polipropileno."  

Uma guitarra com a proposta de soar como a antiga, pq mudar o capacitor?, só pode significar que não faz tanta diferença assim, e para mim é o que as fábricas pensam, mas se as pessoas acham que há algo de tão especial, que o seu uso faz tanta diferença e o produto não é mais fabricado, portanto raro, está criado o cenário perfeito pra obter lucros maiores. A marca e  imagem têm muito poder de influenciar, quem não quer ter uma fender american standard?, agora tire o adesivo, a mágica desaparece. Imagine as mesmas madeiras de uma marca renomada, mesmo hardware, mesma captação e mesmo circuito, mas sem o logotipo...a mágica do instrumento desaparece. É uma bobagem se importar com a marca? talvez, mas certos instrumentos e afins são as nossas referências e referências de mercado, além de fazerem parte da história da música. Isso pode justificar o preço absurdo de certos equipamentos. Pedais como o tube screamer, por exemplo, custam duas ou três vezes mais do que um Boss SD1, que possui praticamente o mesmo circuito, e tudo isso por que as pessoas pagam, elas aceitam pagar o preço simplesmente porque é o cultuado produto . 
          Não tenho a intenção de mudar o gosto e as opiniões de ninguém, eu as vezes também me deixo levar pela marca ou só por que é um produto famoso, o problema é quando há alguém querendo tirar vantagem disso. Se deseja adquirir certos componentes, só porque existe uma lenda sobre eles, pesquise bem sobre o assunto para verificar se a lenda se justifica. Se ficarem convencidos de que realmente o uso de tais componentes fará uma real diferença no seu som, vá em frente e compre.                                                                        

domingo, 5 de fevereiro de 2017

Como o circuito de tonalidade influencia no som

          Neste primeiro post, resolvi falar sobre um assunto já abordado em muito outros lugares. No entanto a forma com que vou apresentar o assunto é sob um ponto de vista diferente. Tentarei explicar de uma forma não muito técnica a ponto de ser chata, mas com alguns exemplos para validar as afirmações. Não vou me estender muito sobre tipos de capacitores, pois já existe muito material na internet sobre isso. Vou focar na interação entre o capacitor e o potenciômetro de tone da guitarra. Então, vamos nessa!

           Como alguns de vocês já devem saber, não se usa capacitores eletrolíticos em circuitos de guitarra, ou até mesmo os de tântalo, pois estes são polarizados e são concebidos para trabalhar com correntes contínuas, esse não é o nosso caso. Para utilização em circuitos de guitarra os mais comuns são os cerâmicos, os de polipropileno, os de poliéster e os de papel e óleo. Algumas pessoas juram que existe uma diferença no timbre dependendo do capacitor, especialmente quando se fala sobre os capacitores de papel e óleo, aqui vou deixar essa questão para ser respondida por cada um de vocês. No entanto, um fato que não é frequentemente abordado é a diferença de valores para um mesmo capacitor (mesmo tipo, mesmo valor nominal, mesma tensão máxima, mesma marca, etc). O valor nominal é o valor que você encontra escrito no corpo do capacitor, como por exemplo 47nF ou 22nF, porém há uma faixa de tolerância em cima desse valor e é muito raro que um componente tenha exatamente o valor nominal.

Para exemplificar valor nominal e faixas de tolerância, vou medir alguns resistores, pois não possuo capacímetro (ainda hehe), porém nada muda, porque o conceito é o mesmo.
          

Como você pode verificar, ainda que com o mesmo valor nominal (10Kohms), os resistores apresentaram diferentes valores, esses são os valores reais. A faixa de tolerância desses é de 5%, isso significa que o fabricante garante que os resistores têm entre 9,5Kohms e 10,5Kohms, geralmente o valor é abaixo do nominal. Quase sempre, quanto menor a faixa de tolerância, maior é o preço do componente. No final das contas, a mudança de timbre entre capacitores (cada um tem a sua opinião sobre isso) pode ser apenas devido a diferença entre os seus valores. Claro que há outros fatores como a deterioração dos dielétricos do capacitor com o tempo, temperatura, ESR, DC leakege e etc, mas podemos concluir que nenhum é igual ao outro.

          Outra grande questão é: Mesmo com o potenciômetro todo aberto o timbre da guitarra muda?, e a resposta é simples: sim. Para comprovar essa afirmação vou apresentar alguns fatos. Para começar é necessário conferir os trechos de duas entrevistas com um fabricante nacional de captadores, que você pode conferir  a seguir aos 16:41 do vídeo no link 1 e aos 10:32 no link 2:

 Link 1-  https://www.youtube.com/watch?v=UaY4XFWPH2E
 Link 2- https://www.youtube.com/watch?v=R7khU0j8LCk

No trecho do vídeo abaixo, do canal do youtube de um americano, pois não encontrei nada parecido em portugûes, você pode verificar em 1:47 que a medida de capacitância é tomada com o potenciômetro (500K) totalmente fechado e, ainda sim, é possível medir uma pequena capacitância.

 

Mas o que tudo isso significa? Vou dar alguns exemplos para chegar numa resposta. O circuito de tonalidade (CT) da guitarra funciona com um filtro passa baixas, que permite apenas que frequências baixas passem e atenua ou corta as frequências altas. Em um filtro passa baixas temos uma frequência de corte que é dada pela fórmula Fc=1/2πRC, onde R é a resistência e C a capacitância, então bastaria aplica-la para saber a frequência de corte. O problema é que essa fórmula é usada em filtros com a forma da Figura 1, e o filtro do nosso caso está melhor exemplificado na Figura 2.

Figura 1                             Figura 2

Então, uma forma mais intuitiva de entender é pensar que o potenciômetro, que é um resistor variável, é usado para ligar o capacitor ao circuito ou excluí-lo dele gradativamente, de forma que quanto maior a resistência menos o capacitor atuará no circuito. Na Figura 3 todas as frequências passam direto para a saída, enquanto que na Figura 4 apenas as baixas frequências vão para a saída.

Figura 3                                                                         Figura 4

No caso da Figura 3, que representa o CT não atuando, não representa fielmente a realidade, já que o sinal é sim atenuado, uma vez que existe uma pequena atuação do capacitor, como foi mostrado no vídeo. Ainda no caso da Figura 3, o que também pode ser comprovado no vídeo é que um potenciômetro de 250K permite uma maior atuação do capacitor. Verifica-se também que o valor do potenciômetro resulta numa mudança mais efetiva do que a mudança do valor do capacitor. Lembrando que os exemplos foram apenas para os componentes mais convencionais (potenciômetros de 250K e 500K, capacitores de 47nF).   

Montei um circuito para comprovar as ilustrações anteriores, ligando o capacitor direto, sem potenciômetro, e depois com o resistor para simular o potenciômetro de tonalidade. O resultado foi o mesmo representado nas figuras. Abaixo estão as fotos do circuito ligado sem o resistor e depois com o resistor. O fio verde é aterrado e o vermelho ligado na saída.   


Usei um capacitor de 47nF, um resistor com valor nominal de 510K, mas 501K real, e um captador humbucker. Depois foi só tocar a guitarra e aproximar do captador para comprovar o resultado, antes testei encostando uma chave nos polos do captador, mas queria ouvir com o som do instrumento. Essa é outra forma de verificar que o CT não atua exatamente como o filtro RC mostrado na Figura 1. Nesse tipo de  filtro, se aumentarmos a resistência (R), diminuímos a frequência de corte e o resultado é um som mais grave. Já no nosso circuito, ocorre o contrário, quanto maior o valor do resistor, mais aberto e com maior presença de agudos será o som, ou seja, mais perto da sonoridade alcançada sem o uso do CT. É importante frisar que em nenhum momento frequências são adicionadas às frequências geradas no captador, apenas são excluídas do sinal que vai para o amplificador. 

          Concluímos então, que o circuito de tonalidade da guitarra está sempre atuando e que você pode efetuar algumas mudanças para modificar a forma como ele interfere no som da sua guitarra. Espero que tenham entendido bem sobre esse assunto e desenvolvam um domínio maior sobre o seu instrumento. Sinta-se livre para fazer correções ou acrescentar algo nos comentários. Até a próxima!!!



Agradecimentos: Ao amigo Eng. Eletricista Deyson Vital, pela contribuição técnica.